terça-feira, 14 de dezembro de 2010

“Lá vem o busão, cheiro de cagão..." - A Sociedade dos Homeless




Já cheguei a conclusão que nunca estaremos 100% satisfeitos com o serviço público em nenhum país do mundo. Nos Estados Unidos, o governo federal cobra 7% de imposto em tudo que o cidadão, mermo o ilegal, fizer. Mas as tal taxes só são inclusas no momento do pagamento, ou seja, o pobre toma no parreco. Aqui o negócio é a psicologia do “tamo fudido a toda hora”. Se, por exemplo, o caba ver um laptop com Fudindows 7, I Core da puta que pariu por U$599, pode tirar o cavalo, jegue, zebra, boi, vaca, bezerro da chuva que junto a esse valor ainda vai se somar 7% de taxes ficando um total de aproximadamente U$641. Seguindo a psicologia do pobre reprimido, este seria um motivo de desistencia da compra, já que faz o cliente ver que, na verdade, não estará pagando o valor divulgado. Sem contar que certos estados também tem a opção de implementar os próprios impostos, assim como os municípios. Portanto, em Los Angeles, esse valor de $599 subiria para quase $658, pois as taxes em LA é de 9,75%. 
 
Voce que é empresário vai vir com o papinho de que é importante discriminar o valor que o governo impõe de imposto como uma forma de mostrar à população quanto isso pode encarecer o produto. Concordo! Mas convenhamos que esse negócio é a maior empata foda. Tá voce passando por uma loja e ver uma camisa liEnda por U$19.99. Com 20 conto na carteira pra viver e morrer, voce vai voltar pra casa indignado porque o mais difícil voce tinha, que era o dinheiro, mas não pode comprar por causa do caraí das taxas. 


E por aí vamos. Pagando altos impostos para termos serviços públicos cortados. A última sensação do momento na terra holiudiana é a diminuição das linhas de busão e o corte total de outras nos fins de semana. O pior são as propagandas impressas da companhia de transporte tentando convencer a população que usar o busão/metro ao invés do carro evita: poluição, engarrrafamento e, claro, economia no bolso do passageiro. (Óbvio! Porque eles estão bem preocupados com isso).

E aí: “Lá vem o busão cheiro de cagão”. O onibus cheira a cu sujo, só tem louco e ao invés de levar 15 minutos para chegar ao seu destino, como seria se estivesse de carro, voce levará, no mínimo, uma hora. Enquanto no Brasil os loucos são aqueles psicopatas evangélicos que insistem em dizer que eu vou pro inferno, mermo eu acreditando em Cristo, aqui, o negócio é patologia mermo! Todos os dias tem que ter um pra bater o ponto. Se não for na ida pro trabalho com certeza será na volta. Aí é onde se tem as vantagens de poder comprar um Ipod a qualquer troco. 

Eh laia. Nesse um ano de vida angelina eu já cruzei com alguns tipos clássicos de LA. Com certeza uma coisa eles tem em comum: a catinga. Aqui estão alguns dos modelos praxes:

- cagão: coadjuvante no último Perolex, a 4 metros de distancia se pode sentir o cheiro intenso de bosta. Um veneno letal que me perseguiu por mais de 40 minutos a ponto deu achar que eu merma tinha me cagado nas calças.
- Mudinho: esses são os melhores. Não falam, não fazem nada. Só carregam as coisas pra cima e pra baixo. De preferencia, se alojam em lugares como paradas de onibus e esquina de rua.
- Camaleão: como no inverno todo mundo sempre anda muito empacotado e como algumas pessoas, principalmente as mais idosas, carregam sempre um carrinho de compras, esse voce só se liga que é homeless quando ele senta do teu lado e, além do cheiro, voce percebe as roupas sujas. 
- Jesus Cristo é o Senhor: esse voce já deve estar familiar. Existem várias filiais no Brasil. Todo mundo é o diabo e ele é o único que vai pro céu.
- Calçada da Fama: andando nas ruas de LA, principalmente de Hollywood, se não tomar cuidado voce facilmente pode esbarrar num mentigo-artista. O cara dança, canta e sapateia. E ainda anda com uma pose de quem tem a bala que matou Kennedy. Bom, pelo menos esse aí te deixa em paz. 
- Faustão: esse geralmente se senta no fundo do busão. Falam um monte de coisa sem sentido ou, quando tem, estão perdidos temporalmente e falam de guerra, de estratégias, sei lá. Alguns fingem muito bem que são alguem até que voce ver que a conversa nunca acaba. As cordas vocais tem vida própria. 
- Silvio Santos: é aquele que além de falar ainda pede a participacao da platéia o que faz muita gente mudar de lugar ou até mermo termina em briga, principalemnte, se na platéia estiver outro doido. Acredite já teve caso do motorista parar o busão porque tavam saindo no tapa. Jogar aviãozinho que é bom, nem!


Ontem, mais uma espécie passou a ser listada e esse foi o meu bom dia. Normalmente o cidadão já acorda de manhã para ir ao trabalho naquela felicidade, né? Come qualquer pão seco com manteiga e tres gole d’agua que encha o bucho e ramo simbora pegar a velha mercedes. Por sorte a linha expresso tava passando e lá vai yo correndo pra alcançar o busão. O único assento available era na parte da frente. E assim fui, quase feliz e com muita fome em direção a mais um dia de trabalho. E eis que, não mais de dois segundos se passam e começo a reparar numa voz feminina nos fundos, aparentemente, conversando com outra comadre. E quanto mais os segundos passavam, mais ela aumentava o tom da voz como quem estivesse indignada e as únicas palavras que até então eu conseguia decifrar eram men, women, dog and God

Foi só quando o motorista começou a falar que eu reparei nas pessoas ao lado. “Será que dá pra parar com essa gritaria aí atrás?”, falou o motorista através do microfone. Pois é, os motoristas e AS motoristas aqui tem moral. Mesmo o tom intimidante dele, não teve jeito. Então, prestei mais atenção ao que ela estava gritando aos quatro ventos. “You know why this country didn’t crash? Because of women. Because of black and white women” (Sabe porque esse país não quebrou? Por causa das mulheres. Por causa das mulheres negras e brancas!) Pronto! Um louca feminista! Era só o que faltava para minha coleção. Daí pra frente não tive como segurar. Comecei a rir do desespero dos outros. Alguns fingiam que estavam bem concentrados lendo, outros que dormiam e outros de autista olhando pela janela naquele mundinho de que “não to ouvindo nada”. No último suspiro de salvar o juízo, o motorista assim implora “Somebody that have a radio could pleeeaaase turn it on? I don’t mind at all. Whatever you want, but please just play something” (Alguem que tenha um radio pode pooorrr favorrr ligá-lo. Eu não importo de jeito nenhum. Pode ser qualquer coisa que voce queira, mas por favor toca alguma coisa). Mas como que por pirraça ou simplesmente porque ninguem tinha o tal aparelho, acabou tendo que ouvir o discurso feminista da véa. 

Perto do momento de descer, percebo a moça ao meu lado meio angustiada. Tentando ser solidária, olho para a figura e ela, como quem desabafando, confessa: “Ai! E eu foi quem deu um dólar para completar a passagem dela”. Para faze-la se sentir confortável e com um sorriso espremendo uma gargalhada respondi: “Don’t feel guilty” (Não se sinta culpada) e me levantei para descer, mas antes de sair falei para o motorista “And you, have a good day, man” (E voce, tenha um bom dia, cara). Pelo menos, o momento loucura do dia já tinha passado e eu podia me sentir mais free que Care Free em dia de chuva. 

E a campanha Natal Solidário está sendo um sucesso. Cada vez mais os Hiltonianos Tupiniquins estão se sensibilizando com as causas dos retirantes brasileiros nos EUA e estão fazendo suas doações. Até agora o Perolex, Porra de Esperança já arrecadou 8 cuzcuzeiras e 11 pacotes de flocão. Um pacote de ki-suco de guaraná também está sendo enviado para os retirantes abusados da nossa instituição. Não esqueça de mudar a foto do seu facebook para mudar o mundo. Para maiores informações (porque aqui a gente não tem ela em tamanho PP) acesse o link: http://migre.me/2WpOm E se voce quiser fazer a sua doação do ano, envie uma mensagem para mim e eu te passo o endereço. Não quero nenhum psicopata se achando o Papai Noel e batendo na minha porta no dia de natal “Hola! Hola! Hola!”.

Um comentário:

  1. Obrigado pelo comentário no meu blog. Todas as histórias lá aconteceram ou comigo ou com pessoas próximas.
    E adorei seu blog. Ele tem aquele ar de aconchego.

    ResponderExcluir