segunda-feira, 12 de maio de 2008

Agora é a vez de Homero!


O bom de passar uma festa tradicional em outra cidade é que sempre há rituais e costumes novos para se conhecer. Em Outro Preto, na época da Semana Santa, a prefeitura interdita algumas ruas e distribui pó de serra colorida nas casas para que a população monte uns tapetes ao longo do percurso que a procissão passará na manhã seguinte. Ou seja, o que levou horas para ser construído, leva segundos para ser arrasado pela batina. O lance é tão sério que há famílias que passam horas, até o amanhecer, montando os tapetes. Alguns são verdadeiras obras de arte.
Como uma boa turista, ajudei a família de Cabeção, que é de Outro Preto, a montar o tapete e depois fui perambular pelas ladeiras da cidade para tirar fotos do povo montando o negócio. Logo no começo da descida, avisto uma mulher segurando uma sombrinha e vestida a là século 18. Então, vou Eu, toda animada, dá a pinta de turista.
- Moça, será que senhora poderia tira uma foto comigo? – minha falsa meiga voz, desta vez, não convenceu. Em fração de segundos, a tal mulher virou e, com gostchú, disse:
- Você só quer a foto? Não quer saber porque estou vestida assim? Por acaso, você é mais uma brasileira desaculturada?
NÚ! (vestido, semi-pelado....) PÔTA QUE LOS PARIÓ! Nem Balsec, um delicado amigo de Cabeça, que é a cara do Wagner Moura, consegue ser tão delicado como ela. Depois de um fora HOMÉRICO desses, Eu deveria dá o lavra. Como vocês sabem...tabacuda, que só Eu, comecei a rir e perguntei:
- Comé, minina?! (Ah, não bastava levar o fora na frente de todo mundo. Ela tinha que repetir que é pra marcar mermo!). Resolvi atender à tão gentil senhora e perguntei porque ela tava vestida daquele jeito.
O melhor foi olhar para Beba-Leite e vê-lo com a maior cara “Amiga, tem jeito naum. Todo mundo viu o mega fora que você levou. Vamo nessa, por favor!” Isso é que é amigo. Está sempre por perto nos piores momentos para dar um apoio moral. O bichinho ainda fez o esforço de ir até mim e colocou a mão no meu ombro. O quase biquinho de “Pelamordedeus, vamo embora!”, não conseguiu me convencer. (Eh! Definitivamente, ela tem fetiche por foras).
Como boa jornalista, comecei a entrevistar a moça. Ela é bailarina e, nas horas vagas, se veste assim e passeia por Outro Preto e Rio de Janeiro. Sua preocupação, segundo ela, é a preservação da história do país (e quase jurou de pés juntos pela mãe, que era só por isso. AAAAaaah, então, como uma brasileira, consciente e ACULTURADA, vou colocar meus peitinhos pra fora e usar uma tanguinha para preservar a cultura indígena tão importante e esquecida da nossa história, não é amoooorrr!!!).
A intenção dela é tão pura que nunca buscou apoio junto às prefeituras, nem nunca se preocupou em elaborar ou sugerir um projeto de revitalização ou preservação cultural mineira. Ela, simplesmente, disse que nunca procurou porque, há anos, ela sai (feito uma doida) pela cidade e ninguém nunca a procurou (só pra tirar fotos - hehehe).
- Você precisa conhecer minha casa. Tudo é do século 18. Os móveis, até a capela que tenho em casa. Essas roupas...tenho uma costureira que faz. Eu desenho os modelos (que, sinceramente, tá mais pra baiana de desfile de escola de samba que pra sinhá). A rede globo acabou de gravar uma minissérie comigo. Já dei entrevista para jornais e participei de novelas. (Sorte da mãe dela, por ela não ter jurado)
Depois que saciei a minha curiosidade e de ter que olhar, pela segunda vez, a cara deprimida de Leitoso, resolvi terminar o assunto:
– E aí, posso tirar uma foto, agora? (sua rapariga de cego, fêla da puta &%$#@*)
- Claro, bein! – (Bein é o meu @#$ na tua %&*, miserávi). Mas não poderia sair com aquele fora entalado. Depois da foto, senti, dentro do meu Eu, surgir um fogo (Ôpa! Vai me dizer que tu cumeu a baranga?) e... - Me diz aí, porque você me tratou com tanta ignorância? Não precisava daquela agressividade toda. Você aculturada assim, deve saber que geralmente são turistas que te abordam. Você poderia discutir a história, já que esse é seu objetivo, de uma maneira mais delicada e doce (Feito RAPADURA, só se for).
Ela me pediu desculpa com um sorriso amarelo e Eu fui mimbora curtir o resto da night, que ainda reservava surpresas.
“Melhor uma foto na mão que um fora entalado”