domingo, 1 de junho de 2008

“Uai! Uai! Uai! Uai! Queijo de QUAI!”


O meu primeiro desafio ao chegar em Minas foi me acostumar com o sotaque. Os “s” muito bem pronunciados e as acentuações fonéticas, às vezes, comprometiam a compreensão de algumas palavras. Além do “UAI”, “sôh!” e “trem baum!”, logo que cheguei, conheci o tal do FRAGA! Estava Eu à mesa, com Cabeção e Leitoso, que Eu acabara de conhecer. Era um tal de Fraga pra lá, Fraga pra cá, “porque Fraga num sei quê”, “fez isso Fraga”, “é culpa dele Fraga”. “Coitado de Fraga. Esse, tá fudido”, pensei. Com a intenção de sair em defesa do companheiro, quem nem conhecia, mas também pra não fazer nenhum comentário idiota, perguntei logo quem era a tal figura. Foi aí que os meninos me explicaram que Fraga, na verdade, é uma gíria mineira que equivale ao nosso “Tá ligado?!”.

Agora, imagine você dizendo: “Cara, a noite ontem foi do caralho, visse?”, “Meti muuuito, tá ligado?”. Realize um mineiro dizendo isso: “Cara, o show foi baum demais”, “Meti muito, fraga? Ôôô trem baum, sôh!”. Vaitimbora. Como diria um bom pernambucano: Eu quero lá saber de outro macho na minha cama, rapá!

Segundo desafio: saber se Eu estava “podendo”. Eu, nordestina, com minha sandália de couro e meu básico “oxente!”, fui me meter numa boate de uma capital do sudeste. Claro que a boate de BH não se compara as de Recife. Fiquei impressionada com o cubículo. Enfim, o importante eram as pessoas. Peguei a bebida “qualquer coisa ICE” e fui dá uma de mulherzinha junto com os meus três amigos secões. (Amigos? Com é que uma mulé vai com três amigos pra uma boate?) Era meu fim! Bem acompanhada daquele jeito, ia pegar ninguém. LLLóóógico!!!

Numa cidade em que o povo não sabe o que é donzelo, balaca, nem tabaca, (TÔ passsaaaada!), é difícil desenvolver uma conversa. Mas nada que um bom dicionário de pernambuquês não resolva. Ah e por falar nisso, a língua nunca foi problema para o minerin. O velho ditado que o mineiro come queto...hum!!! É a maior fraaaaude!

“NÚ!” (traduzindo: “nú” é uma expressão mineira que descreve a mesma sensação que você tem ao ver um véio pelanquento pelado. Ela passou por um processo parecido do “Oxente” que veio da expressão “Ó gente!”. Com o costume, o “oxente” assumiu outras derivações como o “oxen”, “oxe” e “ox”. De acordo com uma fonte oficiosa, o “Oxente” seria o resultado da não compreensão dos soldados brasileiros, que foram para a primeira GM, da expressão “Oh, shit!”. Voltando ao “nú”, o que soube é que ele deriva da palavra “Nusguete” e depois se resumiu em “Nusga” até chegar em “nú”. Enfim, vocabulários a parte...) Pense num mói de gente bunita. Viiiiiiixxxe!!! As nega são gostosa pácaralhooooooo! Tem loira, morena, rabuda, peituda... Só tem “ÃO”: bundão, pernão, coxão, peitão, cabelão...Se o produto não for gato por lebre, tudo indica que as partes mais cavernosas completam a rima. Pois é, Minas é famosa por ser um lugar que concentra a maior quantidade de gente bonita por metro quadrado. Isso Eu já sabia, mas era preciso passar pelo controle de qualidade.

Para minha surpresa, o tal do minerin na era nada quetin. Pra onde Eu olhava, era só flash! Claro que tinha um ou outro bôco-môco (traduzindo: um minino jegue, cafuçú), mas, a maioria, aff Maria!!! Foi aí também que percebi que mané existe em todo lugar do país. Quando entrei no bate-estaca, já conformada com o baixo movimento da night, por causa das minhas másculas companhias, foi que comecei a ouvir as coisas originais de sempre: “E aê, linda!”, “Oi, tchudo bom!”, “Princesa”. (PRINCESA?!!! PUTA que PARIU!) Bem, mas não tinha tempo pra pensar nisso. Eu tinha que ver meu medidor de fexação e... Minino!!! Como sempre... AR-RRRAAAA-SEI!!! Quando olhei prum lado...“flash!”. Olhei pro outro...só glamour!! “Porra, tô bein pá caraaaaí, aê!”. Longe de qualquer intenção libidinosa e pecadora, (sou uma pessoa pura e imaculada) preferia me divertir com os meninos e só tirar onda deles. Óbvio! Homem sempre gosta de contar vantagem e, no final, é um Zeeeero-a-zeeeero do caraí.

Porém, entretanto, contudo, todavia...quando Eu menos esperava, numa fração de segundos, quando viro o rosto...NÚ! Dou de cara com 1,90m de galego. Aí Eu estilei. Quase peço arrêgo. Tinha que ser logo uma galegão. Mermo assim, como uma boa menina, fiquei só sacando: “Já sei como é. Vai ficar nesse couro de pica a noite toda. No final, quando ele tiver bêbado, fedorento e vier falar comigo, Eu dou um fora”. (Só que você esqueceu um detalhe importante, amooorrr: você não estava em Recife. Você estava em um quase seriado americano, à lá “One Tree Hill – Lances da Vida”. Aquele é que é um mundo abençoado. Uiuiui!) E não demorou muito pra constatar isso. Não deu 5 min, quando olhei de volta...o pexte já tava do meu lado perguntando meu nome. (Rapá, gostei desse povo de BH. É uma providêêência). E ai? O que faço agora? Putz! Era só pra ficar no zero-a-zero! (Que nada mirmã. Deixa de quejo e agarra o bofe. Qualquer coisa, inventa uma dor de barriga e lavra!). Pois é, até tentei conversar, quando vi...tava sendo engolida pelo mostro loiro. O 1,90 de galego parecia que tinha uma boca maior que minha cabeça. NÓ! Fiquei com medo. (HUM!!! Ai que mêda). Cada vez que ele abria a boca, juro, era uma Ave Maria que Eu rezava.

Sabe quando você tá aprendendo a beijar e todo mundo diz pra você pôr uma pedra de gelo dentro de uma xícara com água e tentar pegar o gelo com a língua? Pronto! A diferença é que não era gelado. Na verdade, quando não se conhece a figura, é muito complicado se sentir tão à vontade. Geralmente, depois do primeiro beijo, acaba o encanto. A não ser que ele seja muuuito bem humorado, inteligente, gentil, gostoso, bonito, cheiroso e sensual pra render a noite toda. (Sendo assim, ele era gay). Só não rezei o rosário todo porque os meninos me ajudaram a fugir. E aí foi que começou a putaria. (Aviso: alta periculosidade).

A merda era que a boate era um ovo e, aí, ele sempre me achava. Eu juro, pessoas, que Eu queria ser honesta, mas...Eu era um homem vestido de mulher, afinal. Logo eu sou tinha duas saídas: fugir, ou dizer coisas do tipo “Acho melhor a gente não ficar mais porque sou um cara problemático”, “O problema não é você, sou Eu!”. Se Eu assumisse a minha personalidade papolesca, seria o fim: “Bora boy, pega o beco que Eu não quero dá pá tu não. Booooora, mô véi! ARRUDÊA!”. Então, qual a melhor solução? Fugir!!!

O mais engraçado é que eu achei uma figurinha de BH que Eu tinha amizade havia alguns meses. Não é que achei a tal figura na tal boate em uma de nossas tais fugidas? Nossssssaaaaaaaaa!!! Ainda bem que voltei a me fantasiar de mulé. O bofe tinha 1,80 de altura e duas coisas fundamentais, além da inteligência: costas largas e pernas grossas. Uhuuuuuuuu!!! Eita macho gostoso do CA-RA-ÍÍÍ! Nessas horas é que Eu adoro o destino, Deus, casualidades, sei lá.
Sabe que certas coisas na vida que não dá pra explicar? Foi o beijo da figura. (Roupa confortável: R$ 80; sandálias pernambucanas de couro legítimo: R$ 40; Pisa no cabelo: R$ 100; Perfume pega otário: não sei que foi presente; beijar um macho gostoso e se sentir nas nuvens: aaahhh isso, definitivamente, não tem preço). Ele tinha um humor à lá seu Lunga, mas era divertido. A química foi instantânea. Nossos lábios se encontraram num desesperado e doce beijo com gosto de vodka. E numa paixão avassaladora (PÓ PÁRA! Pra mim, Eu tô num romance de Julia e Bianca) Destruidora de sonhos! Enfim, a química rolou de tal forma que a ação foi conjunta. Foi a primeira vez que não quis que Papola fosse realmente embora. Como a historinha da Cinderela, a minha também acabou com o fim da noite. A diferença é que a gata borralheira termina com o príncipe. No meu caso, príncipe não existe e o sapatinho, que era para ser de cristal, era de couro. Então...cabou-se quera doce. (A vida é feito rapadura, minha filha: é doce, mas é dura).

Infelizmente, diferente de muitas historinhas de conto de fadas, não acabamos juntos, por uma opção de ambos. Por medo? Não sei e nem quero pensar nisso. Somos bons amigos. Mas, confesso que nunca esquecerei o beijo mágico com gosto de vodka. Talvez, ter vivido essa sensação, tenha sido mais prazerosa que tê-lo comigo a viagem toda. Nem outro beijo nosso teve o mesmo sabor. Então, quem me garante que seria tão bom quanto aquele beijo foi. Para mim, foi quase que sentir a alma sair pelo corpo numa sinergia singular. Agora, “Voltei Recife” e nada melhor que “Vivi la vida loca” acompanhada de BB King e de Maria da Cruz!