sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O busão!


Os ambientes públicos são, sem dúvida, os melhores lugares para análise do comportamento humano. Supermercados, shows, bancos e, principalmente, os ônibus são perfeitos para estudar os fenômenos sociais. E por falar em ônibus... Um dos piores serviços públicos oferecidos à população é o de transporte. Você paga caro pela passagem. Espera 350 bilhões de horas pelo veículo. Lembrando que a espera é, na maioria das linhas, proporcional a lotação: quanto mais demorado, mais lotado. Além disso, o usuário ainda tem que ouvir desaforo do cobrador quando ele não tem troco.
De acordo com a lei (não sei lá das quantas) o troco é obrigatório para cédulas de até R$ 10. Então, se o cobrador não o tiver, logo não deve permitir que o usuário rode a catraca para que possa devolver o dinheiro sem que acarrete em prejuízos a ninguém. Pois bem, vamos aos casos da vida real. Ou melhor, da MINHA vida real.
Certo dia, voltando do estágio, discuti com a cobradora porque ela, toda estressadinha, me deixou passar pela catraca para depois dizer que não tinha o bendito troco. O ônibus, pra variar, estava cheio e Eu fiquei quem nem cachorro guardando osso para não esquecer do restante do dinheiro na hora de descer. E aí estava o problema. Percebendo sua agonia, comuniquei a dita cuja que a parada (conhecida também por “ponto de ônibus”) seguinte era a do meu destino. Com a maior cara de “cheia de direito”, ela disse que ainda não tinha meu troco. Já comecei a me chatear, mas mantive a pose. Então, já que não havia como resolver a situação, sugeri que ela devolvesse o dinheiro. Muitos passageiros também estavam na minha merma situação, ela teve a ousadia de dizer que Eu não deveria ter rodado a catraca. Né foda? (Não, definitivamente, não é) - E eu vou adivinhar minha senhora? A cédula é de R$ 10, você tem obrigação de me dá o troco. Se você sabia que tava com dificuldade porque pegou o dinheiro e me deixou rodar a catraca? Então, ou você me dá a cédula ou você troca o dinheiro porque vou descer na próxima parada! Ela ficou bufando. Todo mundo do ônibus olhando e Eu, lá, me tremendo de vergonha, mas firme e forte. Num instante, ela arrumou o troco e Eu pude descer, altamente contrariada, lóóógico! É muito desaforo! É por isso que o Brasil não vai pra frente. O desrespeito é graaande!!! Voltando ao busão...
Outra característica marcante do serviço de transporte público é a demora de algumas linhas que se tornaram, com o tempo, verdadeiras lendas. Quem nunca precisou pegar a linha Rio Doce/CDU? O ônibus demora a passar e, quando passa,...putz! É gente viu! Cheio de estudantes que vêm da Cidade Universitária e parece que todos moram em Rio Doce porque o busão não esvazia no decorrer do percurso.
O ano passado, na época em que estava no processo de aulas e prova teóricas da carteira de habilitação, tive que pegar a fatídica linha durante uma semana. Depois de três exaustivas horas de aulas sobre leis de trânsito, motocicletas e mecânica, eis o momento crucial da volta para casa. Até que o busú não demorou e, pela hora, achei que viria relativamente vazio. DOCE ILUSÂO!
Assim que entrei no GOL (Grande Ônibus Lotado), chega bateu o desânimo quando vi aquele corredor quase polonês. Afinal, você acaba levando pisada e cotovelada de graça na cabeça ao passar pelas duas fileiras que se formam ao lado das cadeiras do veículo. Mais parece vingança dos outros passageiros por você ter cometido o infortúnio de ter entrado no busão lotado. Desta vez, porém, saí no lucro. Fui pro fundão, lugar mais vazio, por incrível que pareça, porque todo mundo se concentra na frente ou no meio do corredor. Como as duas filas, tanto ao lado das cadeiras da direita, como as da esquerda, estavam cheias, não tive escolha senão formar uma terceira fila no meio das duas. Pasmem, mas esta foi a minha salvação!
À minha frente, tinha uma linda garotinha de cabelos castanhos e lisos. Ao meu lado direito, um velho alto, que estava segurando o corrimão acima de sua cabeça para não cair. A merda era que tinha, atrás de mim (ops! Olha a putaria hein!), um grupo de tabacudos. Acho que eram calouros, numa faixa etária entre 17 e 19 anos. Nunca vi alguém falar muita, mas muuuita merda, chamando a atenção dos passageiros. Qual a minha sorte?
Embora donzelos, um dos guris era gostosinho e estava com sua fofa bunda colada na minha. Assim, nas curvas que o ônibus fazia, a bunda soft do pirralho amortecia a minha, tornando confortável o chacoalhar do ônibus. Se as bundas tivessem bocas, as nossas, com certeza, estariam nos maiores chupões, tamanho o imprensado.
Já a linda e cheirosa garotinha à minha frente, tinha grandes air bags para a absorção do meu impacto frontal. Nessa hora, Eu também aproveitava pra dá uma profunda inspirada naquele cabelo cheiroso. Para os psicopatas de plantão, que costumam se aproveitar das moças indefesas para dar aquela velha fungada, posso garantir que fiz por uma questão de sobrevivência. Deixa Eu molhar o bico. O velho ao meu lado tava com uma catinga de suvaco que ninguém merece. Pense num cheiro de cassaco! Aff Maria! Ainda bem que ele tava do meu lado: qualquer coisa é só olhar para frente, onde a guria estava.
Tabacuda que só Eu, não consegui conter as gargalhadas com tal situação. Mesmo naquele inferno, consegui me sentir confortável e me aproveitava messsmo dos air-bags traseiros do muleque e do cheiro do cabelo da doidinha. É coisa de louco. Pode parecer, mas é questão de sobrevivência messsmo, camaradas. O interessante era a cara das pessoas. Enquanto todos estavam putos e agoniados com a lotação, Eu ria que chorava. Pois é, pimenta no cu dos outros, definitivamente, é refresco!
Um outro incidente interessante que presenciei em ônibus foi a conversa de duas empregadas domésticas na linha Aeroporto/Afogados. Aí é bronca! Geralmente os ônibus do SEI só dá mundiça e aí já viu, né? A catinga sobe e é tudo encebado. O corrimão, as cadeiras... Vixe! Naquele dia, achei o máximo as duas falando sobre a vida delas e dos patrões. (Cuidado que tem empregada em casa. Podem ser gente de bem, mas, vacilou, tá registrado.) O que me chamou mais atenção foi a humildade. Enquanto nós estamos preocupados em estudar e nunca estamos satisfeitos, querendo sempre mais, elas se contentam com o salário que têm e se sentem super realizadas com a função de caixa de um supermercado, por exemplo. Não estou desvalorizando o trabalho, mas nós, que temos muito diante da massa, nunca nos sentimos plenos. Claro que são culturas diferentes e formações diferentes, mas o fato é que se sentem realizadas com o pouco que têm, mas este é um papo para outra conversa.
O interessante do ônibus, é que todo mundo é obrigado a tolerar o outro pelos minutos ou horas que permanecer encubado. Sejam as conversas idiotas, sejam as conversas de comadres, seja a cantiga de cassaco, o fato é que, ou você atura, ou não se locomove. Então, por favor, toda vez que sair de casa, tome banho, lave bem os cabelos e ponha um bom perfume. Qualquer coisa, mude a marca do desodorante. O importante, amigos, é não ser homicida culposo.

PS: Por motivos gastrointestinais, popularmente conhecido como chicotinho, o Perolex sofreu problemas com a publicação na semana passada. Grata pela comprensão e muito menos pela zuação, seus fi da pexte!